martes, 28 de abril de 2020

Estamos de Volta.


E lá se vão doze anos...

Antes de tudo, quero agradecer,  companheiras bordadeiras: Rioco, Cristina, Tia Ana, Maria Alice, Nívea, Érica, Edmara, Cláudia.
Por permitirem que eu seja  do meu jeito torto,
às vezes inteira, outras , menos da metade;
às vezes sábia,  outras sem nenhuma competência;
alegre e triste; presente e ausente;  silenciosa e falante...

obrigada por me fortalecerem e pela resistência conjunta.

Amo vocês.

domingo, 26 de abril de 2020

Terminei o meu post anterior dizendo que já não sei mais viver sem nossos encontros de terça-feira às 20h00 na casa da Maria Alice. Somo a esse dizer o vídeo postado pela Maria Alice mostrando a sala  onde bordamos vazia e também o post da Rioco com comentários sobre o nosso primeiro encontro virtual para refletir um pouco sobre esse vazio que estamos sentindo devido a quarentena para evitar a propagação do coronavírus. Os nossos encontros de bordado, desde o início do grupo,  acontecem na sala de estar da Maria Alice, salvo algumas exceções onde transferimos os encontros para a sala de estar da Cristina. São quase 20 anos que isso acontece assim. O que isso representa para cada uma de nós? Para tentar responder vou descrever mais ou menos como as coisas acontecem semanalmente:
toda terça-feira, das 20h às 22h, nos encontramos na casa de Maria Alice, que é casada com o Fernando, tem duas filhas adolescentes, Gabriela e Graziela, uma cachorrinha chamada Ginja, e conta com a ajuda da Val, a secretária do lar que antes de ir embora prepara quitutes deliciosos que se juntam com o que cada de uma de nós possa ter levado naquela noite para lancharmos. Existe uma dinâmica familiar que nunca é suspensa nas noites dos encontros: Maria Alice e Fernando chegam do trabalho pouco antes das 20h, as meninas estão em casa e, enquanto vamos chegando e nos instalando na sala de visitas, a família está reunida na cozinha para o jantar. O encontro do bordado acontece ao mesmo tempo que as atividades da rotina da casa. Chegamos, instalamo-nos e começamos a bordar. Nada parece ser modificado na dinâmica da família: as conversas na mesa do jantar, as eventuais “broncas” nas meninas, a arrumação da cozinha, a organização das compras possivelmente realizadas, os telefonemas, entre outros eventos do cotidiano de uma família. O bordado estabelece outro território que convive paralela e harmoniosamente com o território familiar. Isso se repete a cada semana, como um ritual.   Assim o grupo Teia de Aranha, nesse espaço-temporal constrói o território existencial: a sala de estar da casa de Maria Alice, às terças-feiras, das 20h às 22h. Podemos dizer que a sala de estar nesse momento se configura como um “fora/dentro” da casa, um espaço existencial envolvido pela casa, mas que escapa às suas dinâmicas; mas também como um “fora/dentro” da sociedade, em relação a seus modos de cuidado e foi exatamente isso que me interessou na minha pesquisa. No grupo Teia de Aranha, o cuidado é tecido no plano de relações produzido nesse território existencial. Cuidado tecido a partir do estar junto, do acolhimento às diferenças e também na abertura para a produção da diferença por meio do encontro. É neste momento, através do gesto de bordar entre amigas, que nos atentamos às coisas mínimas e cotidianas que valem a pena serem vividas e é neste momento que se dá o cuidado com a VIDA. Penso que seja esse o motivo de sentirmos tanta falta dos nossos encontros, justamente nesse período em que a VIDA vem sendo tratada com tanta negligencia por quem se encontra em cargos de poder. 
Sou aranha novata no grupo, comecei a fazer parte oficialmente em 2018. Muitas pessoas sabem que o grupo não abre para novas bordadeiras, o que é justificado pelo longo tempo de convívio dessas bordadeiras e pelas dinâmicas próprias que foram se consolidando entre essas amigas bordadeiras. Neste longo percurso até que algumas mulheres tentaram!!! rsrs  Mas então como consegui entrar? Tudo se deu por conta do meu mestrado em Gerontologia Social tendo o Cuidado no tempo da velhice como tema de pesquisa. Não me interessava abordar o cuidado pelo olhar das ciências médicas, queria pensar como se tece novas formas de cuidar da vida durante o envelhecimento a partir das relações de amizade. Através de uma amiga conheci a Rioco e o Teia de Aranha e falei sobre minha proposta de Mestrado. Rioco se interessou mas não me garantiu nada, disse que o que ela poderia fazer era me apresentar ao grupo e a partir dessa primeira conversa o grupo decidiria se toparia ou não participar deste meu projeto de pesquisa. Desde o primeiro encontro tudo foi muito cuidadoso na tentativa de estabelecer uma "boa impressão". Por minha sorte elas gostaram da proposta de pesquisa e permitiram que eu participasse como observadora dos encontros semanais. Ao longo das primeiras semanas, esse lugar de observadora foi me incomodando  e percebi que teria que ter o meu projeto de bordado e assim passar a bordar com elas durante as noites de encontro do grupo. Assim foi feito, planejei bordar o meu memorial! E além disso passei a me inserir neste universo do Teia de Aranha cada vez mais, ou seja, na medida do possível, fui participando de todos eventos, viagens, comemorações que aconteciam paralelamente aos encontros semanais. E foi dessa forma que pesquisa, bordado e amizade foram sendo tecidos. No meio deste percurso foi bordada pelo grupo a colcha para o Raul, netinho da Cristina que estava para nascer, e eu fui convidada para bordar um quadradinho desta colcha. Foi este o marco da minha entrada no grupo. Isso aconteceu espontaneamente, nada foi dito oficialmente, mas a partir deste momento me tornei uma aranha-bordadeira! Laços foram tecidos, fios foram se entrelaçando e a amizade foi se fortalecendo. Hoje é como se eu estivesse com elas desde o início e já não sei mais viver sem os nossos encontros de terça-feira às 20h00 na casa da Maria Alice. 


Parte do memorial


Quadrado da Colcha do Raul

miércoles, 22 de abril de 2020



Ontem, a Teia se reuniu virtualmente pela primeira vez em quase 20 anos . Todas estavam alegres e eu tambem mas depois, fiquei com um gosto de estranhamento. Tudo que M.Alice registrou e escreveu 'e  verdade.Cantamos parabens pra Edmara que aniversariou, falamos e rimos ao mesmo tempo. Mas...faltou o elemento que nos ancora : o bordado! 'E verdade que propusemos coisas pra esse periodo de quarentena, vamos nos encontrar cada 15 dias, a peteca nem vai cair mas, ai,ai, dureza saber que nao podemos programar nada, Temos de lidar com o incerto,o imponderavel !
Mas fiquei feliz com a entrada da M.Alice nesse blog adormecido ha tanto tempo. E o bordado da imagem da teia marcar esse novo periodo. Rio

martes, 21 de abril de 2020

Nestes dias de "ficar em casa", como forma de enfrentar a pandemia de corona vírus, tivemos de suspender as costumeiras reuniões de 3ª feiras à noite, hábito praticado há quase 20 anos pelo Grupo Teia de Aranha. Foi, se não a mais dolorosa dentre as várias que tivemos de enfrentar, uma perda terrível, palpável, perceptível por quase todos os sentidos: não mais sons, não mais falas, não mais visões de risos e olhares solidários, não mais cheiros e sabores, não mais abraços, não mais cantos, danças, gargalhadas... Eu quis fazer este vídeo "Saudades de Teia" para servir de testemunho desta ausência, registro lançado numa garrafa até onde for parar. Vamos ver até onde (e quando) ele vai...

domingo, 19 de abril de 2020